Artigos de saúde
A leucemia aguda de adultos é uma doença cuja incidência está em torno de 2.3 casos
por 100.000 pessoas por ano, sendo maior em homens do que em mulheres (2.9 x 1.9). Nos
últimos 20 anos não houve aumento de sua incidência; há no entanto, um aumento
importante da mesma após os 65 anos de idade – 12.2 casos por 100.000 pessoas por
ano.
Como causas podem ser citados fatores hereditários (Síndrome de Down, Síndrome de
Klinefelter), radiações ionizantes (sobreviventes do acidente nuclear japonês tiveram
picos de leucemia no 5-7 anos subseqüentes), exposições químicas (benzeno, herbicidas,
pesticidas) e outros tipos de exposições ocupacionais (óxido de etileno, campos
eletromagnéticos) e drogas (anticancerígenas principalmente). Não há evidências de
infecções virais como responsáveis pelo quadro. A radioterapia sozinha parece trazer
pouco risco o qual é aumentado caso esteja havendo o uso de quimioterapia
anticancerígena ao mesmo tempo.
Essa doença é caracterizada pela invasão da medula óssea por glóbulos brancos
alterados que se tornam cancerígenos. A medula óssea é um órgão localizado no
interior de alguns ossos sendo especializada na produção dos elementos celulares do
sangue, quais sejam: glóbulos vermelhos (carregam oxigênio aos tecidos), glóbulos
brancos (células de defesa) e plaquetas (partículas que impedem o sangramento). Dessa
forma, a medula uma vez invadida por células cancerígenas ficará impedida de exercer
tais funções acima mencionadas o que levará aos sintomas queixados pelos pacientes que
cursam com leucemia aguda.
Esses sintomas são devidos a: anemia (diminuição de glóbulos vermelhos) que leva a
cansaço e fraqueza, febre sem um sinal local de infecção (devido à diminuição dos
glóbulos brancos) e sangramentos – gengivais, nasais, hematomas pela pele sem que
tenha havido trauma suficientemente intenso para gerá-los. Atualmente há vários
subtipos de leucemia aguda de adultos que foi dividida de acordo com características
moleculares das células invasoras. Mesmo com grandes avanços na quimioterapia, continua
sendo uma doença com alto grau de morbidade e mortalidade. Uma das formas importantes de
combate à doença é a sua prevenção, e para isso, deve-se descobrir os tipos de
agentes desencadeantes do processo como os citados acima.
Um estudo feito na Grã-Bretanha, liderado pelo Dr. Graham R. Law através do Leukaemia
Research Fund Centre for Clinical Epidemiology (Centro de Pesquisa de Leucemia para
Epidemiologia Clínica) da Universidade de Leeds, procurou correlacionar a exposição
doméstica ao radônio radioativo e o aparecimento de leucemia aguda de adultos. O
trabalho foi publicado na revista médica Lancet neste ano.
O Radônio é um gás nobre - elemento químico básico, situado na última coluna da
tabela periódica de elementos juntamente com os outros gases nobres como Hélio, Argônio
e Neônio. Ele é obtido através da transformação radioativa do rádio – outro
elemento químico. É um gás raro e tem sido utilizado em algumas formas de radioterapia.
A exposição ao radônio radioativo foi citada na literatura como sendo responsável pelo
desencadeamento de quadros leucêmicos em adultos. Caso se consiga uma comprovação desse
fato, milhares de pessoas em vários países estariam sendo expostas a tal risco
constantemente, o que geraria um grande problema de saúde pública.
O estudo
A região estudada foi o sudoeste, norte e noroeste da Inglaterra que possui uma
concentração média de radônio compatível com toda a Grã-Bretanha. Todos os casos
diagnosticados de leucemia aguda em adultos (16-69 anos) foram coletados entre Abril de
1991 e Dezembro de 1996. Os casos foram pareados com seus controles do mesmo sexo e com a
diferença máxima de dois anos de idade, que foram selecionados aleatoriamente. Foram
excluídas pessoas com história de doenças malignas e ou síndromes mielodisplásicas
(doenças da medula óssea). Participaram 578 casos e 983 controles.
Foram colocados detectores de radônio nas casas de todos participantes na sala de estar e
no quarto de dormir. Os níveis domésticos de radônio variaram de acordo com a época do
ano, tendo estado maiores durante o inverno quando se usa aquecimento central e a
ventilação nas casas está diminuída. Uma média anual de exposição foi constituída.
Os resultados não confirmaram a sugestão de que a exposição doméstica ao radônio
natural seja um fator de risco para o desenvolvimento de leucemia aguda em adultos na
Grã-Bretanha. As concentrações de radônio natural na Grã-Bretanha são geralmente
baixas o que foi reforçado pelo baixo número de casas que excederam o limiar
governamental aceito.
Esses achados são compatíveis com um único estudo de caso-controle realizado na Itália
mas que utilizou um menor número de participantes (44) e teve uma concentração de
radônio maior.
Dessa forma, concluiu-se que na Grã-Bretanha, devido aos baixos níveis de radônio, não
há um risco público para leucemia aguda em adultos.
Comentários
Como já exposto acima, há uma multiplicidade de fatores envolvidos na gênese das
leucemias agudas que uma vez desencadeadas levam à morte rapidamente se o tratamento
adequado não for instituído e infelizmente, muitas vezes, o mesmo consegue unicamente um
pequeno aumento do tempo de sobrevida.
Dos diversos fatores expostos – hereditariedade, drogas anticancerígenas, radiação
ionizante e exposições químicas ocupacionais – aqueles mais acessíveis à
prevenção seriam os dois últimos, visto que fatores genéticos ainda não são
controláveis e o risco de efeitos colaterais de drogas anticancerígenas muitas vezes
não pode ser evitado devido à maior necessidade e benefício do tratamento da neoplasia
em questão em relação ao seu malefício.
Diante disso, é de extrema importância que a população seja conscientizada sobre
aqueles produtos que contém agentes químicos perigosos, além de uma maior e melhor
fiscalização tanto nos locais produtores destes agentes quanto naqueles estabelecimentos
usuários dos mesmos que muitas vezes impõe seu uso aos seus funcionários sabendo ou
não dos malefícios por eles causados.
Uma das dificuldades da conscientização pública é o fato de que muitos destes produtos
não causam danos agudos ao organismo, o que dificulta a crença em suas ações
maléficas à saúde pelos trabalhadores que o utilizam e que ao mesmo tempo dependem
daquele emprego para o sustento de sua família. Outro grupo de trabalhadores exposto
amplamente é o dos trabalhadores rurais que provavelmente possuem um menor nível de
informação. Dessa forma, pode-se talvez considerar as leucemias agudas em adultos como
parte das intoxicações ocupacionais, sendo então um problema importante de saúde
pública.
Fonte: Lancet 2000; 355: 1897-1901
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