Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Informações Gerais e Histórico
- Dados Estatísticos
- Efeitos Psíquicos
- Efeitos sobre o Organismo
- Usos Medicinais da Maconha
"A presente matéria apresenta os vários aspectos envolvidos na utilização da
maconha no Brasil, droga psicotrópica usada tanto como substância de uso e abuso
ilícito, como pelos seus efeitos medicamentosos".
Informações Gerais e Histórico
Segundo informações do médico psiquiatra Dr. Rodrigo Marot, a maconha é
proveniente da planta Cannabis sativa (originária da Índia) que contém a
substância delta-9-tetrahidrocanabinol (D-9-THC), principal elemento ativo da droga.
Do ponto de vista histórico, de acordo com informações do Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) que funciona no Departamento de
Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, "a maconha já era conhecida
há pelo menos 5.000 anos. Até o início do presente século, era considerada em vários
países, inclusive no Brasil, como um medicamento útil para vários males. Mas também
era já utilizada para fins não médicos por pessoas desejosas de sentir ‘coisas
diferentes’. Como resultado de seu abuso, e de exageros sobre os seus efeitos
maléficos, a planta foi proibida em praticamente todo mundo ocidental, nos últimos 50-60
anos".
Dados Estatísticos
Conforme informações do Dr. Rodrigo, a maconha é a segunda droga mais consumida
entre os jovens nas principais cidades do Brasil, perdendo apenas para o álcool. Convém
destacar que os dados dessa pesquisa não consideraram o tabaco e a cafeína como drogas
psicoativas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo, através do CEBRID, entre
os estudantes do 1º e 2º graus das dez maiores cidades do país, em 1997, indicou que
7,6% declararam já haver experimentado a maconha. A mesma fonte mostrou que 1,7% dos
estudantes relataram fazer uso de maconha pelo menos seis vezes por mês.
Efeitos Psíquicos
Dr. Rodrigo Marot afirma que o efeito da maconha é percebido em aproximadamente
20 minutos depois que se começa a fuma-la. Os efeitos tem duração de duas a quatro
horas, aproximadamente. "Em níveis muito altos pode provocar alucinações ou
delírios com reações comportamentais indevidas como agitação e agressividade. O uso
prolongado leva a um comportamento caracterizado pela não persistência numa atividade
que requeira atenção constante (Síndrome Amotivacional)".
Para os pesquisadores do CEBRID, os efeitos psíquicos dependem da qualidade da
maconha fumada e da sensibilidade de quem fuma. "Para uma parte das pessoas os
efeitos são uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, sentir-se
menos fatigado, vontade de rir. Para outras pessoas os efeitos são mais para o lado
desagradável: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o controle da
cabeça, trêmulas, suando. É o que comumente chamam de ‘má viagem’".
Ainda em relação aos efeitos que a droga apresenta para os seus usuários habituais,
segundo informou o psicanalista Fernando Tavares de Lima, Diretor Clínico do Núcleo de
Estudos e Temas em Psicologia – NETPSI, de São Paulo, "Quem fuma maconha
pode apresentar sinais de perturbação na capacidade de calcular o tempo e na avaliação
do espaço, além de problemas de atenção e de memória de curto prazo". De
acordo com o psicanalista, por este motivo, é extremamente perigoso dirigir automóveis
sob o efeito da maconha, pois um objeto que parece estar muito longe pode, na verdade,
estar a poucos metros de distância e esta falha de percepção pode ocasionar acidentes.
Outro tema muito discutido em relação aos efeitos psíquicos da substância, está
relacionado aos seus efeitos para pessoas que apresentem pré-disposição para doenças
mentais. Em relação a esse aspecto, o Departamento de Psicobiologia da Universidade
Federal de São Paulo, adverte: "Há provas científicas de que se a pessoa tem
uma doença psíquica qualquer, mas que ainda não está evidente, ou mesmo quando a
doença já apareceu, mas está controlada com medicamentos adequados, a maconha piora o
quadro. Ou faz surgir a doença ou neutraliza o efeito do medicamento e a pessoa passa a
apresentar novamente os sintomas. Este fato tem sido descrito com freqüência na doença
mental chamada esquizofrenia".
Efeitos sobre o Organismo
Ainda, segundo o Dr. Marot, no sistema imunológico o D-9-THC prejudica a
produção de células de defesa no baço, medula óssea e timo. Já no sistema
cardiovascular, a droga provoca aceleração do batimento cardíaco e diminuição da
pressão arterial. Além disso, a maconha também diminui a capacidade de coagulação do
sangue (diminuindo a agregação plaquetária).
A psicóloga Lídia Aratangy, autora do livro Doces Venenos, Conversas e
Desconversas sobre Drogas, também aponta para o fato de que os efeitos dependem da
quantidade utilizada, além da forma de preparação, da via pela qual é consumida, da
sensibilidade de quem a usa, das condições em que é usada, do significado que a
experiência tem para a pessoa. Lídia conclui dizendo que "os efeitos físicos
imediatos da maconha não são muito extraordinários: ligeira taquicardia (os batimentos
cardíacos passam a 140/160 por minuto, quando o normal é 80/100), secura na boca e
vermelhidão nos olhos".
Analisando a questão do ponto de vista orgânico, o psicanalista do NETPSI, Fernando,
aponta que podem haver sérias conseqüências em várias funções do corpo. Por exemplo,
a fumaça da maconha pode causar irritação nos pulmões, gerando problemas que vão
desde bronquites até canceres e enfisemas pulmonares.
Novamente, segundo os membros do CEBRID, outro efeito físico adverso do uso crônico da
droga refere-se aos níveis orgânicos da testosterona, o hormônio masculino.
"Já existem muitas provas que a maconha diminui em até 50-60% a quantidade de
testosterona. Conseqüentemente, o homem apresenta um número bem reduzido de
espermatozóides no líquido espermático (oligospermia), o que leva à
infertilidade". Convém destacar que este é um efeito que desaparece quando a
pessoa deixa de fumar a substância. É também importante dizer que o homem não fica
impotente ou perde o desejo sexual, as alterações são, apenas, na produção dos
espermatozóides.
Usos Medicinais da Maconha
Atualmente, muito se tem discutido a respeito do uso médico de substâncias químicas
encontradas na maconha. Segundo o CEBRID, "graças à pesquisas recentes, a
maconha (ou substâncias dela extraídas) é reconhecida como medicamento em pelo menos
duas condições clínicas: reduz ou abole as náuseas e vômitos produzidos por
medicamentos anti-câncer e tem efeito benéfico em alguns casos de epilepsia (doença que
se caracteriza por convulsões)".
Entretanto, o mesmo grupo de pesquisadores alerta: "É bom lembrar que a maconha
(ou as substâncias extraídas da planta) têm também efeitos indesejáveis que podem
prejudicar uma pessoa".
O psicólogo Fernando Tavares de Lima disse ter informações a respeito de médicos que,
há muito tempo, dizem para pacientes que já fazem o uso da droga, que a fume em
determinados horários, especificamente antes das refeições, para aproveitar o seu
efeito de sensação de fome e possuírem apetite. Esses casos, evidentemente, não são
divulgados, pois a utilização da maconha no Brasil é ilegal. Contudo, são bastante
freqüentes em doentes de AIDS e de câncer, que enfrentam dificuldades na alimentação.
Contudo, um dos problemas são os efeitos "tóxicos" da droga e o seu grau de
pureza variável. Como nunca se sabe qual é a quantidade que deveria ser utilizada para
esse fim, esse é um dos argumentos para os que defendem que os medicamentos à base de
maconha sejam produzidos por laboratórios.
Nos Estados Unidos, há uma série de pesquisas sendo realizadas sobre os efeitos
terapêuticos da maconha. Importantes médicos e biólogos, membros do National
Institutes of Mental Health e do National Institute of Neurological Disorders and
Stroke, pesquisam sobre os efeitos do THC como "neuroprotetores" contra
efeitos tóxicos e como "anti-oxidantes". Dados desse estudo sugerem que a
maconha pode ser útil como agente terapêutico para o tratamento de desordens
neurológicas, como por exemplo, nos acidentes vasculares cerebrais do tipo isquêmico.
Copyright © 2000 eHealth Latin America
11 de Setembro de 2000
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