Artigos de saúde
Nesta Entrevista:
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Investimentos Federais no Combate à AIDS Superam US$ 700 Milhões Anuais
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Preservativo pode vir a ser Item da Cesta Básica dos Trabalhadores Brasileiros
- As Mulheres e a AIDS no Brasil
- A AIDS no Interior do Brasil
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Brasil Possui Políticas de Prevenção e Tratamento para Populações Indígenas
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O Próximo Passo do Governo Brasileiro é Incentivar a Municipalização do Combate à
AIDS
- Brasil Possui
Vários Núcleos Científicos de Referência
- Um Paciente
de Aids Custa US$ 4.500,00 Anuais só em Medicamentos
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Medicamentos: O Governo Ameaça Quebrar Lei das Patentes Caso não Haja Negociação de
Redução dos Preços pelos Laboratórios
- Veja Outros Artigos Relacionados ao Tema
"Entrevista com Dr. Paulo Roberto Teixeira, Coordenador Nacional de DST/AIDS,
departamento do Ministério da Saúde. O Dr. Teixeira é médico sanitarista e
dermatologista e acompanha a questão da AIDS desde os seus primórdios. Ele presidirá o
Fórum 2000 – América Latina e Caribe – DST/AIDS, que ocorrerá de 6 a 11 de
novembro no Rio de Janeiro".
Investimentos
Federais no Combate à AIDS Superam US$ 700 Milhões Anuais
BoaSaúde: Quanto o Governo já gastou até hoje em campanhas para tentar
combater a epidemia de AIDS?
Dr. Teixeira: Seria difícil estimar. Nós temos um orçamento anual de cerca de US$
150 milhões para as atividades de prevenção e vigilância epidemiológica, isso não
inclui cerca de US$ 500 milhões anuais, que são usados com a compra de medicamentos, e
não inclui também os investimentos de Estados e Municípios. No mínimo, nós temos
cerca de US$ 700 milhões mobilizados anualmente, somente no âmbito federal, para a
prevenção e controle da AIDS.
BoaSaúde: Quais foram os avanços conquistados pelo Governo, desde o primeiro caso de
AIDS registrado aqui no Brasil até hoje?
Dr. Teixeira: Eu prefiro não dizer que o Governo conquistou, eu insisto em dizer que
o Brasil tem sido apontado como exemplo mundial no enfrentamento da AIDS, e esse exemplo
não se refere somente à ação governamental, ele se refere exatamente a essa resposta
Nacional que aconteceu desde que os primeiro casos foram identificados. Essa resposta
nacional incluiu atividades governamentais, uma mobilização intensa dos órgãos
comunitários, das Organizações Não-Governamentais, universidades, e o próprio setor
privado. Como fruto desse conjunto de ações, particularmente nos últimos anos nós
temos detectado ganhos muito importantes. A epidemia efetivamente se estabilizou, embora
ela seja de grande dimensão. Mas se estabilizou. Nós não temos tido aumento da
epidemia. Nós esperamos, nos próximos anos, apresentar uma redução. Nós tivemos uma
queda brutal na mortalidade das pessoas envolvidas. Nós tivemos incorporação de medidas
de prevenção extremamente importantes, como o uso de preservativos, na população
sexualmente ativa, principalmente entre os jovens. Assim como temos uma série de
questões sobre o impacto da doença, das questões legais. A questão dos direitos tem
sido equacionada em geral de forma satisfatória. Temos muito a fazer, tendo por diante as
difíceis condições sociais e econômicas em que vive a população brasileira, isto é
uma barreira adicional. Mas, sem dúvida, os avanços são palpáveis, visíveis, e eles
reforçam a idéia de que, havendo essa determinação, essa mobilização, é possível
sim ter um bom resultado no enfrentamento de uma questão social como é a AIDS.
Preservativo
pode vir a ser Item da Cesta Básica dos Trabalhadores Brasileiros
BoaSaúde: O senhor acredita que o preço do preservativo, para um País que tem salário
mínimo de R$ 151,00, é demasiadamente alto?
Dr. Teixeira: Ele é muito alto. Nós temos registrado preservativos, aqueles de custo
médio que estão acessíveis, a cerca de R$ 0,35 a R$ 0,40. Esse preço ainda é
relativamente alto para a população. Nossa meta é que ele esteja na faixa de 20
centavos no menor prazo possível. Mas principalmente, a grande barreira, a grande
limitação, é a disponibilidade de preservativos, ou seja, o preservativo estar ao
alcance das pessoas em qualquer horário, em qualquer lugar, de maneira fácil, o que não
acontece hoje. Hoje nós temos os preservativos vendidos em supermercados, farmácias e
distribuídos nas instituições governamentais; mas nós temos que incluir bancas de
jornal, postos de gasolina, bares que ficam abertos durante a noite e assim por diante, ou
seja, temos que investir na redução do preço, mas temos, principalmente, que promover o
alcance, o acesso ao preservativo de forma mais fácil, através de uma distribuição e
de uma venda mais próximas à população.
BoaSaúde: O governo estudava uma proposta de incluir na cesta básica o preservativo
como item. Como é que ficou este assunto?
Dr. Teixeira: Na verdade, essa foi uma iniciativa conjunta de governo e órgãos da
comunidade que continua valendo. Nós continuamos articulando, negociando e somos
otimistas de que, a curto prazo, conseguiremos, na medida em que temos contado com o
grande apoio do setor empresarial. Mas, para que seja uma ação sustentável, ela
necessita de algumas providências de caráter legal, que permitam às empresas e
instituições que fornecem a cesta básica, de uma certa forma, receber alguma espécie
de incentivo e, tudo isso, repito, depende de algumas articulações legais. A
negociação continua existindo, nós somos otimistas pelo que temos caminhado até agora
mas, evidentemente, é necessário algum tempo para que isso possa se tornar realidade.
BoaSaúde: E o que estaria emperrando, freando essa atitude?
Dr. Teixeira: Na verdade, não tem nada freando. É uma questão do tempo necessário.
Como eu disse, nós precisamos criar um consenso em torno da idéia por parte de empresas,
de sindicatos, de Secretários de Fazenda de Estados e Municípios, de estâncias
governamentais, do próprio Congresso. Então, na verdade, não tem sido encontrada
resistência, mas são passos que nós temos que tomar, até para que a questão, como eu
disse, tenha o necessário apoio legal para que possa ser permanente, constante, de longo
prazo.
As Mulheres e a AIDS no Brasil
BoaSaúde: A AIDS tem crescido muito entre as mulheres, em especial as heterossexuais e
casadas. O que o governo está fazendo?
Dr. Teixeira: Essa resposta, na verdade, terá que ser encontrada exatamente a partir
do envolvimento de todos os setores da sociedade nessa discussão; o que eu quero dizer
com isso: indiscutivelmente, hoje, mulheres constituem o grupo mais vulnerável da
população, particularmente, aquelas que tem uma falsa sensação de segurança por serem
casadas, por terem companheiros fixos, por serem fiéis a eles. Nós temos a noção
absolutamente clara de que esse é um processo, é uma questão que será muito difícil
de abordar, afinal nós vamos tratar de questões delicadas, sensíveis do ponto de vista
cultural, como é tratada a questão da sexualidade, e principalmente a questão da
fidelidade, a questão da relação extraconjugal. Agora, o que nós temos dito é o
seguinte: não temos alternativa, a sociedade brasileira não tem alternativa nesse
momento, o problema tem que ser posto na mesa e, evidentemente, o produto final desejável
seria a conversa franca, o compromisso estabelecido entre os casais para que a proteção
mútua seja garantida. Então vai ser no âmbito dos casais. É após uma mobilização de
todos os setores, da opinião pública, do governo, da imprensa, das associações
comunitárias, principalmente de mulheres, que esse processo começará a se refletir.
BoaSaúde: Em relação ao preservativo feminino, o que o governo tem feito nesse
sentido?
Dr. Teixeira: O governo brasileiro, após vários estudos sobre a aceitação do
preservativo feminino, foi o primeiro País a iniciar a distribuição, não massiva, mas
para grandes setores da população. No entanto, os preservativos femininos têm sido
indicados pelas suas próprias características, para algumas situações bastante
específicas e para algumas populações já identificadas, que são principalmente
profissionais do sexo, parceiras de usuários de drogas injetáveis, e mulheres submetidas
à violência. Porque o preservativo é caro, o uso não é tão simples, a aceitação
não é absoluta, portanto, se nós formos comparar com o uso do preservativo masculino,
que ainda é mais fácil e mais barato; considerando que existem situações aonde a
mulher não tem qualquer papel de negociação e não conta com qualquer participação do
companheiro na prevenção; considerando que o preservativo feminino depende absoluta e
exclusivamente dela; este artefato passa a ser a grande arma. Nós estamos utilizando
nestes grupos cerca de dois milhões de preservativos anuais.
BoaSaúde: O senhor não acredita que até pela cultura do homem brasileiro, por um
certo machismo, ele não usa muito o preservativo nas relações? Não seria mais fácil
abordar as mulheres?
Dr. Teixeira: Veja como eu disse: aquelas que encontram as maiores dificuldades com
seus parceiros estão exatamente incluídas nesse programa. Nós temos é que verificar um
pouco, verificar numa escala maior, a real aceitação e consistência de uso. Se nós
detectarmos que ele está sendo incorporado com maior facilidade do que o preservativo
masculino num contingente grande de mulheres, evidentemente que o governo encontrará os
recursos, os mecanismos para tornar esse preservativo acessível a um contingente maior da
população de mulheres, e aí eu estou falando de preço e venda.
BoaSaúde: Dr. Teixeira, em relação às campanhas, pela T.V., rádio, onde se atinge
mais rápido o público em geral? O que tem sido feito é suficiente para estar atingindo
o público?
Dr. Teixeira: Se nós considerarmos os objetivos que tem uma campanha eu diria que
sim, a campanha tem um caráter essencialmente de mobilização e sensibilização da
população, nós não podemos esperar que as campanhas produzam mudanças de
comportamento e incorporação de meios de prevenção. Estas coisas dependem de projetos
específicos, dirigidos a cada setor da população, particularmente os grupos de maior
vulnerabilidade ou até grandes setores como o de mulheres. A estratégia é, portanto,
manter as campanhas de caráter nacional e periódicas e estimular, como já tem
acontecido, a veiculação de campanhas regionais locais associadas a questões mais
específicas, a projetos mais específicos, de cada região ou município.
A AIDS no Interior do Brasil
BoaSaúde: Qual a expansão dos casos de HIV no interior? Não é perigoso, já que no
interior do Brasil, nós não contamos com o sistema de saúde tão evoluído?
Dr. Teixeira: É um problema a se enfrentar, sim. Existe uma tendência de difusão da
epidemia para as cidades menores, fora dos grandes centros. É um problema, mas não
acredito que seja tão difícil de ser incorporado e parece que a clareza de que esse deve
ser o objeto de trabalho agora é bastante consistente, consensual, do ponto de vista dos
Ministérios, Estados e Municípios. A idéia é promover as ações de prevenção de
HIV/AIDS, nas ações básicas de saúde, se apoiando principalmente nas ações do
município e nos programas de agentes comunitários do programa de saúde da família. A
ação municipal é a grande vertente para as ações de saúde, para a política de
governo neste momento. E a AIDS deve estar aí incluída, para poder chegar aos pequenos
municípios, às populações que estão longe dos centros urbanos.
Brasil
Possui Políticas de Prevenção e Tratamento para Populações Indígenas
BoaSaúde: O que o Governo está fazendo para tentar fazer esse trabalho de prevenção
junto com as populações indígenas?
Dr. Teixeira: Existem vários projetos, eu não me recordo agora de quantos, mas acho
que mais de vinte projetos específicos com populações indígenas, e que tem cada um a
sua característica, dependendo da própria população com a qual ele está se referindo,
da localização da sua morada, da existência ou não de outros recursos de saúde, de
outros recursos de apoio aos índios. Mas o que eu posso dizer é que de uma forma geral,
grande parte da comunidade indígena está envolvida em projetos de prevenção em
parceria com o Governo Federal, com Estados, Municípios, Funai, e Organizações
Não-Governamentais. Felizmente a situação entre eles é bastante limitada, nós temos
38 casos de pessoas HIV positivas num contingente de cerca de 350 mil pessoas, o que é
uma taxa muito menor do que a observada na população de uma forma geral. Mas nós temos
uma noção clara da vulnerabilidade dessas populações, próximas da sociedade dita
civilizada, e de outros movimentos de pessoas como garimpo, caminhoneiros, etc. Isso está
sendo considerado de acordo com a característica de cada região, mas o que nós podemos
assegurar é que é uma população que está sendo alvo de ações permanentes de
prevenção.
O
Próximo Passo do Governo Brasileiro é Incentivar a Municipalização do Combate à AIDS
BoaSaúde: Quais são os próximos passos do Governo em relação ao combate a AIDS?
Dr. Teixeira: O grande passo do Governo é manter e ampliar as ações que tem feito
até agora, mas principalmente descentralizar as ações, levá-las para o âmbito
regional e municipal. Essa é a grande tarefa que nós temos nesse momento: dividir com
Estados e Municípios as responsabilidades e levar essas ações, tanto de prevenção
como de assistência, para o âmbito municipal, para o pequeno município, perto da
população. Segundo aspecto importante desse trabalho é tornar essas ações todas
institucionais e sustentáveis, porque nós vamos conviver com a epidemia ainda por um bom
tempo.
BoaSaúde: As diferenças culturais do País em geral, como o senhor vê, existe algum
Estado que tem mais dificuldade para absorver essas informações, como é que essas
diferenças culturais do Brasil influenciam na absorção das informações para tentar
evitar o HIV?
Dr. Teixeira: Evidentemente o Brasil tem uma grande diversidade cultural, mas tem as
vantagens de um País que tem a mesma língua, a mesma formação básica que é
multicultural, multiétnica, etc., o que, de uma certa forma, facilita o trabalho
uniforme. As características regionais e locais são exatamente aquelas a serem tomadas
em consideração e adaptadas por Estados, Municípios e organizações comunitárias que
estejam atuando em cada local. Isto significa desde ter eventos próprios, onde a
mobilização da população se torna mais fácil, como é o caso do carnaval, para o
País inteiro, ou festas regionais de cada local, até outros hábitos, como forma de
concentração, eventos, etc. Isso é exatamente o trabalho que cada Estado e Município
deve fazer, ter a ação adequada à sua região e população.
Brasil Possui
Vários Núcleos Científicos de Referência
BoaSaúde: Em relação às pesquisas, no âmbito de uma vacina um tratamento, na área
científica de AIDS. O que tem sido feito nesse setor aqui no Brasil?
Dr. Teixeira: O Brasil tem participado e certamente vai participar, dos testes de
medicamentos que em geral são feitos nos países produtores e em alguns outros países. O
Brasil continua bem envolvido nisso e estamos fazendo esforços para que seja envolvido
nos ensaios, teste de vacinas, etc. Nesse aspecto da produção do conhecimento, o Brasil
desenvolveu uma experiência fantástica, em especial na área de assistência. Foi uma
experiência de abordagem multiprofissional, multidisciplinar. Nós temos participado mais
na fase de adequação, de verificação de efetividade para a população brasileira.
BoaSaúde: Existe algum núcleo científico dentro do Brasil, que esteja trabalhando
nesse aspecto de encontrar uma solução, um medicamento, uma vacina?
Dr. Teixeira: São muitos núcleos. O Brasil tem mais de trezentos serviços
especializados, no atendimento às pessoas com HIV, AIDS e outras DSTs. Muitos desses
serviços tem atividades de caráter técnico, de caráter científico, que tem um
significado particularmente no que se refere a experiência clínica, como eu disse,
extremamente importante para o País. Seria difícil nomear, mas pelo menos cada Estado
conta com, no mínimo, um centro que tem esse caráter de referência, de desenvolvimento,
de pesquisa. Outros Estados, como o de São Paulo, tem dezenas deles, muitos ligados a
universidades, mas muitos da própria rede pública de saúde, que estão bastante à
frente desse trabalho.
BoaSaúde: O que significa a Lei do Monitoramento?
Dr. Teixeira: A Lei do monitoramento significa que você está permanentemente
colhendo amostras em todas as regiões do País e através de estudos que são bastante
complexos, caracterizando a estrutura desses vírus em laboratórios, para verificar
exatamente qual tipo de vírus e subtítulo de vírus está circulando e para ter certeza
de qual medicamento e até que futuras vacinas você terá que utilizar.
BoaSaúde: Porque ele tem várias mutações?
Dr. Teixeira: Exatamente, eles têm vários tipos, e nós temos um monitoramento bem
complexo, mas bastante eficiente sobre as características do vírus que está circulando
no Brasil.
BoaSaúde: Esses subtipos provocam reações diferentes?
Dr. Teixeira: Essencialmente o mesmo quadro, a diferença é muito mais na reação
que eles terão, principalmente porque nós estamos pensando em vacinas, então é
importante, porque se no futuro uma vacina estiver disponível ela tem que ser compatível
com o vírus brasileiro, e é esse investimento que está sendo feito.
Um Paciente
de AIDS Custa US$ 4.500,00 Anuais só em Medicamentos
BoaSaúde: Quanto custa o tratamento de um paciente com HIV?
Dr. Teixeira: Nós temos custos exatos, estabelecidos, somente da utilização dos
anti-retrovirais, os medicamentos que combatem o vírus diretamente. Hoje ele está ao
redor de US$ 4.500,00, o que significaria R$ 7 mil ou R$ 8 mil por ano, por paciente. Se
nós acrescentarmos a isso os custos da assistência médica propriamente dita, da
estrutura laboratorial, tudo isso, esse custo será muito maior, mas a grande parte de
fato é determinada pelo medicamento.
Medicamentos:
O Governo Ameaça Quebrar Lei das Patentes Caso não Haja Negociação de Redução dos
Preços pelos Laboratórios
BoaSaúde: Em relação aos medicamentos. O Governo, aqui em São Paulo, está fabricando
pela Furp. O que o Governo Federal tem feito? Sai mais barato fazer do que importar?
Dr. Teixeira: Na verdade não é o Governo Federal, são iniciativas públicas, em
geral de Estados que estão procurando incorporar na linha de produção os medicamentos
anti-retrovirais que sejam possíveis. Isso provocou, sim, uma queda muito grande nos
preços, no mercado nacional. O Governo Federal está negociando com a indústria
farmacêutica, e isto dá hipótese de utilizar a legislação nacional e internacional
para furar o bloqueio estabelecido pelas leis. Se for o caso, promover a fabricação
nacional de todos os medicamentos que sejam necessários para torná-los acessíveis.
BoaSaúde: Essa Lei de Patente pode bloquear o desenvolvimento que o Governo produz
desses remédios? É isso?
Dr. Teixeira: O Brasil nesse momento tem produzido remédios similares, genéricos,
aqueles que tem sido postos no mercado. Isso foi possível, porque a Lei de Patente, até
um determinado momento, permitia que no Brasil se fizesse isso. Há um grupo de
medicamentos que está protegido por leis de patentes, e portanto são vendidos somente
pelos seus produtores originais. Se esses medicamentos não tiverem seus custos reduzidos,
num patamar compatível com as posses, com os recursos brasileiros, o Governo Federal,
através do Ministério da Saúde, está estudando e considerando a hipótese de quebrar
direitos de patentes e, se for necessário, promover a produção local, a um preço mais
justo. Mas, como eu falei, essa seria uma solução última. Hoje a etapa é de
negociação com a indústria farmacêutica.
BoaSaúde: Como seriam essas indústrias? Quais são esses laboratórios?
Dr. Teixeira: São muitos. Nas listas a gente tem quais são as multinacionais que
produzem e vendem medicamentos para nós, quais os que têm similares nacionais, e quais
nós estamos considerando quebrar a lei de patente. Especificamente, falamos dos
medicamentos neufinavir e efavirenze. Podemos verificar quem é o laboratório dono,
proprietário. Mas, como eu disse, nós estamos em negociação e eu não estou falando
por minha conta, estou reproduzindo a posição do Ministro da Saúde: essas duas drogas
que não estão sendo fabricadas terão que participar de alguma negociação ou
eventualmente terão suas patentes quebradas. Nós gastamos 80% do dinheiro
nacional, 80% dos quinhentos milhões de dólares, vão para quatro
medicamentos de marca, enquanto que somente 20% cobrem sete dos medicamentos
utilizados, você percebe então a desproporção que existe, os nacionais são
infinitamente mais baratos do que os de marca e nós temos que partir para a negociação.
BoaSaúde: O Ministro ameaçou quebrar essa patente?
Dr. Teixeira: Ele tem declarado sistematicamente, é esse o recado.
BoaSaúde: O governo pensa em estar fabricando preservativos femininos ou masculinos.
Existe realmente algum projeto nesse sentido?
Dr. Teixeira: Até se considera essa possibilidade, de em parceria com alguns governos
ou de estado ou de municípios, investir na produção de preservativos. No entanto, temos
que deixar bem claro que não existe a menor intenção do governo de novamente se
envolver com a produção, mas sim de tentar intervir no mercado, tentar regular o
mercado, e principalmente provocar a queda de preço. Por enquanto nós estamos
considerando que as alternativas até agora tomadas, como a importação direta, como a
promoção e ampliação do mercado e marketing social, que tem se encarregado de ampliar
o acesso ao preservativo, tenham seus efeitos. Se em um determinado momento se concluir
que uma produção mesmo que parcial é indispensável, será considerado, sim. Como já
disse, já temos projetos e estudos bastante desenvolvidos nessa direção. Por enquanto
achamos que ainda não é o momento mais adequado, na medida em que muitas coisas a que se
refere o mercado de modo geral ainda devem ser feitas.
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28 de Setembro de 2000
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