Artigos de saúde
© Equipe Editorial Bibliomed
Neste artigo:
- Introdução
- Por que tantos jovens se infectam?
- Curso natural da AIDS nos jovens
- Cuidado clínico
- Tratamento específico
- Prevenção da AIDS na juventude
A adolescência é um período da vida caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento, que se manifesta por transformações físicas, psicológicas e sociais. Ela representa um período de crise, na qual o adolescente tenta se integrar a uma sociedade que também está passando por intensas modificações e que exige muito dele. Dessa forma, o jovem se vê frente a um enorme leque de possibilidades e opções e, por sua vez, quer explorar e experimentar tudo a sua volta. Algumas dessas transformações e dificuldades que a juventude enfrenta, principalmente relacionado à sexualidade, bem como ao abuso de drogas ilícitas, aumentam as chances dos adolescentes de adquirirem a infecção por HIV, fazendo-se necessário a realização de programas de prevenção e controle da AIDS na adolescência.
Segundo dados de boletim epidemiologico publicado em 2019 pelo Ministério da Saúde, entre 2007 e junho de 2019, o Brasil registrou 966.058 casos detectados de infecção pelo HIV. A maior concentração dos casos foi entre jovens com idade entre 25 e 39 anos, em sua maioria (52,4%) do sexo masculino. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), na última década, observou-se um aumento na taxa de detecção entre pessoas de 15 a 29 anos e entre os idosos (60 anos ou mais).
Por que tantos jovens se infectam?
Existem algumas características comportamentais, socioeconômicas e biológicas que fazem com que os jovens sejam um grupo propenso a infecção pelo HIV. Dentre as características comportamentais, destaca-se a sexualidade entre os adolescentes. A atividade sexual na maioria das vezes se inicia na adolescência, sendo que muitos não utilizam preservativo. Muitas vezes, a não utilização desses está relacionada ao abuso de álcool e outras drogas, os quais favorecem a prática do sexo inseguro. Outras vezes os jovens não usam o preservativo quando em relacionamentos estáveis, justificando que seu uso pode gerar desconfiança em relação à fidelidade do casal. Observa-se, também, que muitas jovens abrem mão do preservativo por medo de serem abandonadas ou maltratadas por seus parceiros. Por outro lado, o fato de estar apaixonado faz com que o jovem crie uma imagem falsa de segurança, negando os riscos inerentes ao não uso do preservativo.
Outro fator importante a ser levado em consideração é o grande apelo erótico emitido pelos meios de comunicação, frequentemente direcionado ao adolescente. Os meios de comunicação informam e formam opiniões, unificando padrões de comportamento, independente da tradição cultural, colocando o jovem frente a uma educação sexual informal que propaga o sexo como algo não planejado e comum, dizendo que "todo mundo faz sexo, mas poucos adoecem".
Alguns fatores biológicos contribuem para o aumento da infecção entre as mulheres jovens. Em primeiro lugar elas possuem células imaturas dentro da cavidade vaginal e no colo do útero que não impedem a infecção, como nas mulheres mais velhas. Em segundo lugar, os homens possuem uma grande capacidade de transmitirem doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), o que, por sua vez, facilita a infecção pelo HIV. Por fim, as mulheres possuem um grande número de DSTs assintomáticas, o que faz com que grande parte dessas infecções não sejam tratadas e, dessa maneira, aumentam as chances de contrair o HIV.
Curso natural da AIDS nos jovens
Apesar de o curso clínico da infecção pelo HIV, para a maioria dos adolescentes, ser igual ao dos adultos, alguns achados podem ser semelhantes à infecção tanto no adulto, quanto na criança. Estudos mostram que a gravidade da doença varia marcadamente de acordo com o tipo de transmissão. Assim sendo, os indivíduos jovens que adquirem o vírus através do contato sexual costumam manter-se assintomáticos por algum tempo, mas possuem o número de linfócitos TCD4 menor que 410/ml (o que representa uma disfunção imunológica moderada). Já os indivíduos que adquirem a doença da mãe apresentam-se assintomáticos por muito tempo e possuem pouca disfunção imunológica. Portanto, os médicos precisam estar atentos ao fato de que, muitas vezes, o diagnóstico de AIDS congênita pode ser feito apenas na adolescência, e que a realização do exame da AIDS deve ser feito também nos filhos adolescentes de mães infectadas, uma vez que a infecção pode ficar latente por muitos anos.
Os adolescentes precisam de atendimento médico orientado para seu grupo e os profissionais de saúde precisam ser preparados para resolver as suas necessidades. A atenção ao adolescente deve ser dada por uma equipe multidisciplinar, incluindo os serviços de saúde mental, o atendimento ginecológico específico para pacientes com AIDS e os programas de prevenção e educação. A privacidade é um aspecto muito importante nas consultas dos adolescentes, pois geralmente estes têm vergonha das mudanças que ocorrem em seu corpo.
Devido à alta incidência de DSTs nesse grupo de pacientes, os testes de detecção dessas doenças devem ser feitos logo no início do diagnóstico da infecção, estes testes incluem o exame preventivo do câncer de colo, exames para detecção da presença de clamídia, gonorreia, sífilis, herpes genital e hepatite B. Outros exames que devem ser feitos incluem a contagem de células CD4, contagem da carga viral, hemograma completo, exames de avaliação hepática, exames de avaliação renal, exame de urina de rotina, exames sorológicos para detecção de toxoplasmose e citomegalovirose, teste de gravidez e, por fim, os exames para detecção de tuberculose.
Os adolescentes devem receber as seguintes vacinas: tríplice viral (rubéola, caxumba e sarampo), dupla para difteria e tétano, hepatite B, Antiinfluenza, Antipneumococo e antihaemófilos. A segunda dose da vacina BCG só não deve ser feita em pacientes com sintomas de AIDS.
A dosagem dos antirretrovirais é baseada no desenvolvimento da puberdade, de acordo com a classificação de Tanner (escala que classifica o desenvolvimento dos adolescentes de acordo com as fases da puberdade), e não pela a idade. Dessa forma as doses pediátricas devem ser usadas nos pacientes com classificação I e II (fase pré-adolescente), as dosagens dos pacientes que se encontram na fase inicial da adolescência (III e IV) devem ser baseadas de acordo com o fim ou não da fase do estirão da puberdade (fase de crescimento acelerado que ocorre nas mulheres entre 11 e 12 anos e nos homens entre 13 e 14 anos), por fim os adolescentes que se encontram na fase V devem ser tratados como adultos.
Deve-se dar atenção ao fato de que muitas drogas prescritas para adolescentes (como os anticoncepcionais, o metronidazol, usado para o tratamento de clamídia e tricomonas, e alguns antidepressivos) possuem interações medicamentosas com os antirretrovirais. No uso dos antirretrovirais, as doses dessas drogas devem ser ajustadas pelos médicos.
A aderência ao tratamento entre os adolescentes é relativamente baixa, sendo que apenas 56% das mulheres e 65% dos homens (participantes de um estudo para avaliação da aderência ao tratamento em pacientes com infecção pelo HIV) revelaram que faziam uso corretamente dos antirretrovirais. Os principais motivos ligados à baixa adesão ao tratamento são os efeitos colaterais, os inconvenientes gerados pela grande quantidade de comprimidos e o esquecimento.
Prevenção da AIDS na juventude
É fundamental que a sociedade adote práticas para tornar os jovens capazes de se protegerem do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis, garantindo-lhes o direito a um desenvolvimento seguro e saudável. Essas práticas passam pela adoção de políticas públicas de educação sexual nas escolas e em meios de comunicação que atinjam esse público, até o diálogo aberto sobre sexo e prevenção dentro de casa.
É preciso que o adolescente seja envolvido ativamente, para assegurar que as atividades sejam relevantes e úteis. É necessário descobrir o que os jovens pensam e quais são as suas necessidades. Os programas a serem desenvolvidos devem ser baseados nos problemas, crenças e necessidade de informação, identificados pelo próprio paciente.
Os jovens precisam muito mais do que fatos sobre sexo, eles precisam questionar, desenvolver a capacidade de tomar decisões, comunicá-las aos outros, lidar com os conflitos e defender as suas opiniões, mesmo que essas sejam contrárias às opiniões dos outros.
Por fim, o comportamento do adolescente é muito influenciado pela família, amigos, professores e principalmente pela mídia. Estes podem desempenhar um papel fundamental, e devem atuar aumentando a conscientização sobre as práticas que afetam a saúde do adolescente, como o abuso de drogas e de álcool e a prática do sexo inseguro.
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