Artigos de saúde
Neste Artigo:
- O Que é e Como Ocorre o Derrame Cerebral
?
- Qual é a Sobrevida
de um Paciente Após o Derrame Cerebral?
- As Diferentes
Abordagens Hospitalares Frente a um Derrame Cerebral
- Como Tais Abordagens
Influem no Resultado do Tratamento?
- O Valor da Unidade de Derrame Cerebral
- Como Analisar Tais Resultados?
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Tema
"O derrame cerebral é uma das doenças mais sérias e desafiantes da
medicina, devido ao seu elevado nível de mortalidade e de dependência definitiva. São
vários os fatores que o desencadeiam, fazendo parte da ampla gama de doenças vasculares.
Infelizmente, mesmo com o avanço tecnológico, ainda não se conseguiu melhorar
sobremaneira, o resultado do tratamento. Isso pode ser visto claramente diante da pequena
diferença existente entre os resultados dos tratamentos realizados em um hospital com
alta tecnologia e em outro com baixa tecnologia. No que se refere ao tratamento, uma boa
abordagem de cuidados gerais e reabilitação parece ser a melhor esperança. No que se
refere à doença como um todo, cada vez mais se reconhece que o melhor é a sua
prevenção".
O Que é e Como Ocorre o
Derrame Cerebral?
O derrame cerebral tem sido um dos maiores desafios para a saúde pública e a
medicina como um todo, com uma mortalidade alta e um número maior ainda de indivíduos
dependentes em cuidados de enfermagem pelo resto da vida. Ele ocorre devido à presença
de êmbolos ("rolhas") sangüíneos que se desprendem de regiões ricas em
trombos (sangue coagulado) como num coração doente, ou em placas de aterosclerose das
artérias do pescoço. Tais êmbolos vão então obstruir os vasos de uma região
cerebral. Dependendo da função dessa região cuja irrigação sangüínea estará
interrompida, é que se dão os sintomas. Assim, um indivíduo poderá sentir dormência
e/ou perda da força de algum membro do corpo, dificuldade para falar, dificuldade para
enxergar, etc. Esse tipo de derrame é chamado de acidente vascular cerebral (AVC)
isquêmico, sendo o mais freqüente dos AVCs. O AVC hemorrágico ocorre por ruptura de um
vaso cerebral devido a um aneurisma (região frágil de um vaso) ou a uma malformação
vascular, ou devido a um aumento súbito da pressão arterial sangüínea. Nos últimos
anos, novas pesquisas sobre intervenções promissoras e novas drogas têm sido
desenvolvidas.
Há diferentes formas padronizadas de abordagem desse problema nos diversos centros
hospitalares. Tais diferenças são, na maioria das vezes, devido à disponibilidade ou
não de exames complementares de alta tecnologia, os quais estão ausentes em grande parte
dos hospitais dos países subdesenvolvidos.
Um estudo sobre o tema foi realizado pelo Dr. Richard F. Heller e colaboradores, do Centro
de Epidemiologia Clínica e Bioestatística da Faculdade de Medicina da Universidade de
Newcastle, Reino Unido. Nesse estudo, publicado em um dos Boletins da Organização
Mundial de Saúde deste ano, foram abordados os diferentes tipos de condutas frente ao
derrame cerebral de acordo com a disponibilidade tecnológica de diferentes centros. Um
resumo deste trabalho será exposto no texto abaixo.
- Qual é a
Sobrevida de um Paciente Após o Derrame Cerebral?
- A mortalidade perante um primeiro AVC hemorrágico é de 30-50% em 30 dias e
62% em um ano.
- A mortalidade perante um primeiro AVC isquêmico é de 10-12% em 30 dias e 18% em seis
meses.
- A taxa de pessoas mortas ou dependentes após um ano foi de 50% no AVC isquêmico e 74%
no AVC hemorrágico.
As Diferentes
Abordagens Hospitalares Frente a um Derrame Cerebral
Como já exposto acima, o objetivo do estudo foi correlacionar os resultados
terapêuticos frente a um derrame cerebral, em diversos hospitais utilizando formas
diferentes de abordagem. No caso em questão, essas formas são diferentes principalmente
no que diz respeito ao maquinário de exames complementares, dotados de uma alta
tecnologia dispendiosa e por isso inacessível para muitos hospitais. Assim, os hospitais
foram classificados em quatro categorias, de acordo com a conduta realizada. Os resultados
foram quantificados através do resultado seis meses pós-derrame.
Categoria 1: Altíssima Tecnologia: Tomografia computadorizada imediata
(permite excluir um AVC hemorrágico), o que possibilita a utilização de substâncias
anticoagulantes imediatas (nos casos indicados) para dissolver o êmbolo e o uso de
aspirina precoce.
Categoria 2: Alta Tecnologia: Tomografia computadorizada não urgente,
mas com uma unidade de derrame cerebral organizada. Não se consegue utilizar os
anticoagulantes imediatos. A aspirina é utilizada em 48 horas.
Categoria 3: Tecnologia Intermediária: Não há tomografia
computadorizada, mas há uma unidade de derrame cerebral organizada. Aspirina e outros
anticoagulantes são utilizados tardiamente (2-4 semanas) para se evitar o aumento do
risco de piora do sangramento nos casos de AVC hemorrágico. Entretanto, mesmo depois
desse tempo, ainda permanece um risco importante.
Categoria 4: Baixa Tecnologia: Não há tomografia computadorizada ou
unidade de derrame cerebral organizada. A única intervenção é a utilização de
aspirina tardiamente (2-4 semanas).
Como Tais Abordagens
Influem no Resultado do Tratamento?
A percentagem de pessoas mortas ou dependentes foi reduzida em uma pequena
porção independente da abordagem utilizada. Na categoria 4, onde a única intervenção
foi a utilização de aspirina, houve uma melhora de 0,5% na mortalidade e dependência.
Na categoria 3, quando a unidade de derrame cerebral organizada foi acrescentada, houve
uma melhora de 2,7% a mais. As categorias 2 e 1 obtiveram uma melhora de 0,4% cada, nesse
resultado.
O Valor da Unidade de Derrame Cerebral
Os resultados demonstraram que a melhora na taxa de sobrevida foi mais intensa
devido à implantação de tais unidades. De fato, o papel dos cuidados gerais e de
reabilitação centrados nesses tipos de pacientes, parece aumentar sensivelmente os
benefícios de outras intervenções. A maior dificuldade está na identificação dos
componentes responsáveis para que isso possa ser padronizado e aplicado mundialmente. Por
exemplo, já está comprovado o papel da aspirina como uma droga barata e que traz
benefícios óbvios para a maioria dos pacientes com derrame cerebral, contento o melhor
custo benefício para o tratamento em países em desenvolvimento.
Como Analisar Tais Resultados?
Não foi o objetivo do estudo demonstrar que aqueles pacientes que recebem as melhores
intervenções têm um melhor resultado. O objetivo foi colocar o problema de como
utilizar as melhores evidências de estudos clínicos (realizados em países
desenvolvidos) para ajudar na abordagem do derrame cerebral realizada por países mais
pobres e em centros de baixa tecnologia disponível. A identificação do processo de
tomada de decisões e a exploração das conseqüências de decisões alternadas em
resultados importantes parecem contribuir no desenvolvimento de uma abordagem mais
racional.
Os resultados do estudo sugerem um pequeno impacto no tratamento, com o uso da tomografia
computadorizada. Isso, por sua vez, não significa que aqueles pacientes que fizeram uso
da mesma não foram beneficiados, mas sim, que para o grupo de derrame cerebral como um
todo, o impacto é pequeno.
Caso o benefício da trombólise (anticoagulação sangüínea imediata com agentes
específicos) precoce seja confirmado por estudos futuros, a redução da mortalidade e
dependência nos pacientes com AVC isquêmico, poderá chegar a 20%, se os mesmos chegarem
numa unidade de tratamento a tempo.
Pôde-se perceber nesse texto, a pequena parcela de benefícios obtidos pelo tratamento do
derrame cerebral, mesmo com alta tecnologia. Dessa forma, para que haja uma redução do
peso da doença causada pelo derrame, é imprescindível que se mantenha esforços na
prevenção primária, capaz de gerar um maior impacto do que qualquer tecnologia hoje
conhecida.
Fonte: Bulletin of the World Health Organization, 2000, 78: 1337-1343.
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06
de Dezembro de 2000.
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