Artigos de saúde
Neste artigo:
- Introdução
- A doença
- O tratamento
- As seqüelas na saúde e
o impacto econômico-social
- A importância da prevenção
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"A Febre Reumática (FR) é uma doença inflamatória que ocorre algumas semanas
após uma infecção de garganta por uma bactéria (estreptococo do grupo de A de
Lancefield), em indivíduos predispostos (por mecanismos genéticos e ou imunes ainda não
claramente estabelecidos). É mais freqüente entre 5 e 15 anos de idade."
Introdução
Em nosso meio e em outros países em desenvolvimento, é a causa mais comum de cardiopatia
no adulto jovem (aproximadamente 40% das cirurgias cardíacas no Brasil são conseqüentes
a Febre Reumática), sendo um problema de saúde pública, reduzindo a expectativa de vida
e gerando impactos financeiros na família e na sociedade. A doença se manifesta em
crianças de qualquer classe econômica, mas é mais freqüente em condições de
superpopulação e de higiene precária, que predispõem a infecções. Nestas
condições, sua incidência se aproxima de 100 ocorrências para cada 100.000 crianças.
Estima-se que, no Brasil ocorram, a cada ano, 6 milhões de infecções de garganta por
estreptococos, sendo que 18.000 provocam Febre Reumática aguda (0,3% do total) e seis mil
(um terço) deixam seqüelas de cardiopatia reumática crônica.
A doença
O ataque agudo da Febre Reumática geralmente pode durar até 3 meses e tem uma clínica
muito variável. Devido a essas variações e às graves conseqüências que a doença
pode trazer, existem critérios determinados para se fazer seu diagnóstico.
Os critérios menores são dor articular, febre, exame de sangue mostrando aumento da
Velocidade de Hemossedimentação (VHS) ou da Proteína C Reativa (PCR) e alterações no
eletrocardiograma. Os critérios maiores são cardite, poliartrite, coréia de Sydenhan,
nódulos subcutâneos e eritema marginado.
A cardite (acometimento do coração) é o pior aspecto da doença, sendo o maior
responsável pelas seqüelas e pela necessidade de acompanhamento futuro. A cardite pode
estar ausente ou variar desde aceleração do pulso, passando por sopros e alterações no
eletrocardiograma, até insuficiência cardíaca que provocar inchaço nas pernas e falta
de ar. Uma vez ocorrida, pode curar totalmente ou deixar seqüelas em forma de lesões das
válvulas cardíacas (sopros). Dependendo da intensidade, a lesão da válvula exige que o
paciente seja submetido a uma cirurgia para restaurar (valvuloplastia) ou para trocá-la
por uma prótese.
A poliartrite é assimétrica e muda (a cada um ou até cinco dias) de uma articulação
para outra, acometendo principalmente tornozelos, joelhos, punhos e cotovelos. Mesmo sem
tratamento, a artrite cura em no máximo 4 semanas, sem deixar seqüelas. Se tratada,
desaparece em dois dias. A Coréia de Sydenhan é uma manifestação típica da doença e
ocorre principalmente em mulheres. Aparece aos poucos, com alterações da atenção,
comportamento, fala ou escrita, e evolui para movimentos involuntários, desordenados e
sem finalidade, que podem, em alguns casos, atrapalhar os movimentos voluntários
(inclusive a marcha). Ela melhora com repouso.
Os nódulos subcutâneos são como pequenos caroços, indolores, sob a pele, que
geralmente aparecem agrupados. São pouco freqüentes. O eritema marginado também é
raro, e consiste de lesões típicas na pele, que ocorrem principalmente no tronco.
O diagnóstico da Febre Reumática é feito quando existem dois critérios maiores ou um
maior e dois menores, havendo evidências de que a criança sofreu uma infecção pelo
estreptococo. A existência da Coréia, independentemente de outros fatores, é suficiente
para o diagnóstico.
O tratamento
O tratamento da doença aguda varia de acordo com os sintomas apresentados por cada
paciente. Basicamente, deve-se administrar antibióticos para combater o estreptococo e
manter repouso, acrescentando medicamentos para tratamento dos sintomas específicos. A
pessoa que já sofreu um episódio de Febre Reumática corre mais risco de sofrer novos
episódios, sendo que este risco é maior quanto menor for o tempo decorrido do último
episódio, e é máximo durante os primeiros cinco anos. Cada recidiva aumenta a lesão do
coração, aumentando as seqüelas e o risco de morte pela doença. Por esse motivo, o
paciente deve receber a chamada "profilaxia secundária", que deve ser iniciada
assim que diagnosticada a Febre Reumática.
A profilaxia secundária consiste da administração de Penicilina Benzatina, por um tempo
que varia de acordo com a gravidade e com a idade de ocorrência da doença inicial
(pessoas mais jovens têm maior risco de uma nova infecção pelo estreptococo).
Como a Penicilina Benzatina pode provocar reações alérgicas, é recomendável que a
aplicação seja em local com equipamento e medicamentos suficientes para intervenção
imediata em caso de choque anafilático, que é raro, mas pode ocorrer. Todos os Postos de
Saúde devem ter material e pessoal treinado para estes casos. O "teste da
benzetacil", outrora recomendado, atualmente não é mais indicado pelo fato de que a
reação alérgica pode ocorrer em quem não tem história de alergia prévia, e ocorre
independentemente da quantidade da droga administrada, de forma que o próprio teste pode
provocá-la.
Infelizmente, mesmo seguindo a profilaxia adequada, 20% dos pacientes sofre recidiva.
Deve-se, portanto, fazer um acompanhamento médico periódico, que serve para avaliar o
tratamento, a existência de uma possível recidiva e a evolução das seqüelas
porventura deixadas pela doença.
Além da profilaxia para Febre Reumática, as crianças com lesões das válvulas do
coração conseqüentes à doença devem ainda receber profilaxia para endocardite
infecciosa, uma grave infecção bacteriana que ocorre no coração. Os pacientes que
precisarem ser submetidos a uma troca da válvula têm evoluções diferentes, de acordo
com as próteses instaladas.
As seqüelas na
saúde e o impacto econômico-social
As complicações conseqüentes à febre reumática são várias e graves. Em uma pesquisa
envolvendo 44 crianças com menos de 12 anos submetidas à troca da válvula no INCOR -
São Paulo, entre 1986 e 1992, 40 (91 %) tinham lesões nas válvulas conseqüentes à
doença reumática e 6 (13.6 %) apresentavam também alterações no ritmo cardíaco
devido a essas alterações.Em 10 anos, 18% dos pacientes estavam mortos e apenas 20% do
total não haviam sido submetidos a uma nova cirurgia para trocar novamente a válvula.
Além de terem uma redução na expectativa de vida, os pacientes que sofrem da doença
passam por inúmeras consultas, acompanhamento e tratamento permanente e, nos casos mais
graves, internações e cirurgias, que ficam caros para a família ou para o sistema
público de saúde. Em um estudo realizado com 100 crianças e adolescentes com febre
reumática acompanhados no serviço de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, houve 22
casos de repetência e perda de diversos dias de aula, sendo que 11 ainda apresentaram
recidiva da doença. Os pais, que eram principalmente de níveis sócio-econômicos mais
baixos, perderam dias de trabalho, e cerca de 5% perderam o emprego.
A importância da prevenção
Os inúmeros prejuízos gerados por esta doença são reduzidos por uma prevenção
adequada, que inclui esclarecimentos sobre a doença, melhorias nas condições de vida da
população carente, diagnósticos precoces e tratamento adequado da infecção por
estreptococos. Como precaução, leve seu filho ao médico quando suspeitar de uma
infecção na garganta.
Nos casos em que já houve a doença, o acompanhamento adequado e a educação sobre a
necessidade e a importância da profilaxia secundária protegem 70 a 80% dos pacientes,
sendo as formas mais eficazes de melhorar a qualidade de vida e impedir maiores
complicações futuras.
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18 de Janeiro de 2002
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