Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Introdução
- Álcool
- Lança-Perfume
Introdução
O carnaval é a festa popular mais importante do Brasil. Durante os quatro dias
de folia, a alegria é geral e a ordem é se divertir. Blocos, desfiles de escolas
de samba, bailes, tudo é motivo para sair da rotina e cair no samba. Mas muitas
vezes os exageros acabam com a festa: não são raros os casos de pessoas que são
obrigadas a terminar o carnaval mais cedo, principalmente por motivos evitáveis.
O número de acidentes de trânsito aumenta, os serviços de pronto-socorro ficam
abarrotados de pessoas que sofrem vários tipos de lesões, desde pequenos cortes
acidentais até aquelas que resultam de brigas entre foliões. E, frequentemente,
encontramos como denominador comum nesses casos o abuso do álcool. Além do
álcool, cresce nessa época também o consumo de outros tipos de drogas, em
especial os inalantes, como o famoso lança-perfume. Nesse artigo discutiremos
alguns aspectos importantes do uso do álcool e dos inalantes, enfocando
principalmente o lança-perfume.
Álcool
Não é difícil entender o porquê do grande consumo de bebidas alcoólicas durante
o carnaval. Além do fato de ser uma festa, muitas das famosas músicas de
carnaval apresentam o álcool como elemento fundamental na emoção de seus
personagens. Outro aspecto é o apelo exagerado das campanhas publicitárias, com
cartazes espalhados por todos os lugares e camarotes especiais, que oferecem
bebida à vontade. Com isso, as pessoas ficam condicionadas a beber todos os dias
da festa, e em grande quantidade. O cidadão se rende aos apelos da mídia e acaba
se esquecendo de suas responsabilidades.
Segundo dados de pesquisas realizadas no país, aproximadamente 34% das mortes
por causas violentas envolvem pessoas alcoolizadas. Segundo a Associação
Brasileira de Medicina de Trânsito, o número de acidentes de trânsito cresce em
torno de 20%, durante o carnaval. Ainda segundo a ABRAMET, as bebidas alcoólicas
estão presentes em 61% dos acidentes de trânsito. Esses números são alarmantes,
principalmente quando nos lembramos das dimensões do nosso país e do grande
número de foliões.
O álcool é a droga mais consumida no mundo inteiro, e também a que causa mais
danos. Além de levar ao desenvolvimento de cirrose e alguns tipos de cânceres, o
álcool aumenta o risco da prática do sexo desprotegido (sem camisinha), levando
à disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS, e à gravidez
indesejada. Como o álcool é utilizado muitas vezes como ferramenta de
socialização, ele acaba integrando o cotidiano das pessoas. Mas o risco de
desenvolvimento de dependência é grande. Beber com responsabilidade e moderação
é a melhor maneira de evitar problemas.
Todos os anos, durante o carnaval, em várias cidades do país, são desenvolvidos
projetos e ações com o objetivo de garantir a segurança e o bem-estar dos
foliões, e também das pessoas que preferem não participar das festas. Assim, é
importante seguir as recomendações oferecidas e ter um bom carnaval.
Por lei, não existem restrições ao consumo de bebida alcoólica, exceto a venda a
menores de 18 anos. Mas segundo o código brasileiro de trânsito, “dirigir sob a
influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue,
ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou
psíquica, significa infração gravíssima, com pena de multa e suspensão do
direito de dirigir”. Além disso, o condutor corre o risco de detenção de seis
meses a três anos. Portanto, dirigir embriagado é coisa séria: é crime! Não
coloque em risco a sua vida e as das outras pessoas.
O álcool exerce vários feitos no organismo, de acordo com a concentração no
sangue. Veja abaixo:
• 0,2 a 0,3g/L: equivale a um copo de cerveja, um cálice pequeno de vinho, uma
dose de bebida destilada; já começa a ocorrer um prejuízo das funções mentais, e
a percepção de velocidade e de distância fica comprometida.
• 0,3 a 0,5g/L: equivale a dois copos de cerveja, um cálice grande de vinho,
duas doses de bebida destilada; o indivíduo tem uma sensação de calma e
relaxamento, e o grau de vigilância diminui. A visão também fica comprometida.
• 0,5 a 0,8g/L: equivale a três ou quatro copos de cerveja, três copos de vinho,
três doses de bebida destilada; os reflexos ficam retardados, há dificuldade na
adaptação da visão a diferentes luminosidades, tendência à agressividade e
minimização dos riscos (a pessoa acha que o risco é pequeno e que pode tudo).
• 0,8 a 1,5g/L: a partir dessa taxa, a quantidade é muito grande e varia para
cada indivíduo, devido às diferenças no organismo de cada um. As dificuldades na
condução de automóveis aumentam, a pessoa perde a capacidade de concentração e
ocorrem falhas na coordenação motora.
• 1,5 a 2,0g/L: indivíduo embriagado, com visão dupla.
• 2,0 a 5,0g/L: embriaguez profunda.
• Acima de 5,0g/L: coma alcoólico.
Por isso, siga sempre a famosa recomendação: se for dirigir, não beba; se beber,
não dirija! Se sair em grupo, eleja o motorista do dia, o qual não deverá
ingerir álcool. Tenham sempre opções de bebidas não alcoólicas. O álcool não é
garantia de diversão e você pode ter um ótimo carnaval sem ingerir álcool em
excesso. Lembrar sempre da ressaca do dia seguinte, que pode acabar com o
restante do seu feriado! Divertir-se é preciso, mas com responsabilidade sempre.
Lança-Perfume
Elegemos o lança-perfume como representante das drogas inalantes, pois seu uso é
feito principalmente durante o carnaval. Ele é composto por uma mistura de éter,
clorofórmio, cloreto de etila e essência perfumada, que evapora rapidamente
quando em contato com o ar. Nos anos 20, a droga era legalizada e os foliões
costumam espirrá-la uns nos outros. Ao entrar em contato com a pele, a mistura
evaporava e deixava uma sensação de frescor (“um geladinho”).
Com o tempo, esse uso inocente foi dando lugar à sua utilização como droga
inalante. Assim, as pessoas molhavam um lenço com a mistura e cheiravam o mesmo,
garantindo sensação de euforia e torpor. Como toda droga, o lança-perfume exerce
vários efeitos maléficos no organismo e, após ter sido relacionado a muitas
mortes por parada cardíaca, sua fabricação e venda foram proibidas, no Brasil,
na década de 60.
O uso do lança-perfume, como droga, é feito com o objetivo de ter sensações de
euforia, animação, excitação. Essa é a fase inicial dos efeitos, sendo que
ocorrem também tonteiras e alterações da audição e da visão. Porém, essa droga
deprime o funcionamento do cérebro e, passada essa fase inicial, a pessoa fica
confusa, desorientada, com a visão embaralhada, não consegue falar direito e
perde o controle dos movimentos. Com o passar do tempo, esses efeitos
depressores ficam mais fortes, e a pessoa pode ter alucinações. Nos casos mais
graves, o indivíduo chega a ficar inconsciente, podendo ter surtos e convulsões.
Essa depressão pode atingir partes do cérebro que controlam o coração e a
respiração, causando parada cardíaca e morte.
Os danos devidos aos inalantes são causados tanto pelo uso agudo quanto pelo uso
crônico, e mesmo o uso ocasional, como no carnaval, é perigoso. Essas drogas
fazem com que o coração fique mais propenso a aumentar o número de batimentos
por minuto quando se faz algum esforço físico. Isso pode facilitar o
desenvolvimento de arritmias cardíacas, com possibilidade de morte. O uso por
muito tempo leva ao desenvolvimento de seqüelas cerebrais, como a demência.
Além disso, como é uma substância proibida e, em muitos casos, contrabandeada de
outros países, não existe nenhum controle de qualidade na sua fabricação. Assim,
podem estar presentes sustâncias que aumentam ainda mais o risco e o potencial
de efeitos indesejáveis.
Finalizamos com uma frase da Equipe do Programa Álcool e Drogas do Hospital
Israelita Albert Einstein: “O carnaval pode ser comemorado com muita alegria e
disposição, sem o abuso de substâncias que alterem a consciência, para que a
quarta-feira não seja de cinzas, mas de lembranças de momentos realmente
divertidos”.
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17 de janeiro de 2006.
Artigo revisado em 31 de janeiro de 2013
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