Artigos de saúde
Neste Artigo:
- O Mecanismo da Dor
- Meditação - O Que é?
- Tipos de Meditação
- Vantagens da Meditação
- Cuidados
- Curiosidades
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A síntese do que é meditação pode estar na explicação do monge budista
tibetano, Tenzin Gyatso, conhecido internacionalmente como S.S. o 14º Dalai Lama, Prêmio
Nobel da Paz. Em sua vinda a Curitiba, no Paraná, ele definiu meditação ao dizer:
"É engano pensar que quando alguém está meditando, este alguém está ocioso. Na
verdade, o indivíduo que se põe a meditar não está 'fazendo nada', como muitos pensam.
Ele está, sim, travando a mais dura de todas as batalhas, a batalha consigo mesmo".
O Mecanismo da Dor
A dor é definida como um sentimento desconfortável que nos diz que algo está errado
em nosso corpo pela AHCPR (Agency for Health Care Policy and Research). É a
forma que o corpo tem de enviar um alerta ao cérebro. Nossa medula espinhal e nervos
fornecem o caminho para que as mensagens vão e voltem no cérebro, indo também às
outras partes do corpo. Nossas milhares de células nervosas na pele sentem o calor, o
frio, a luz, o toque, a pressão e também a dor e enviam a mensagem via medula espinhal
até o cérebro.
Mas existem alguns fatores que diminuem ou eliminam a dor, entre eles: o sono, os
remédios, a hipnose, a meditação. O clima também influi na dor e em sua reincidência,
sendo inúmeros os casos em que pessoas que tiveram acidentes, ou portadoras de artrite ou
outras doenças que causam dor, que relatam sentir a mesma dor quando o tempo muda ficando
chuvoso ou frio, por exemplo. É como se o cérebro tivesse uma 'memória para dor', que
torna a voltar como da primeira vez que a dor foi sentida, quando circunstâncias
ambientais semelhantes àquele dia tornam a acontecer.
Nossa expectativa e nossa postura mental, assim como nossa sugestionabilidade diante da
dor são fatores decisivos para seu controle - pessoas que ouviram histórias parecidas
com as suas 'sabem' de antemão que sentirão dor, e realmente sentem. Enquanto que
outras, que simplesmente ignoram a dor (de um parto, por exemplo), passam por ela sem
maiores problemas.
O controle da dor vem sendo estudado pelos médicos, pois já foi confirmada a forte
relação entre ela e a recuperação de uma doença ou de uma cirurgia. De maneira geral,
a medicina reconhece que o aumento da dor está ligado à adrenalina e noradrenalina
(indivíduo em estado de alerta), enquanto que a ausência de dor está ligada à
endorfina (indivíduo relaxado).
O controle da respiração e o relaxamento colaboram de modo significativo para o controle
da dor, diz Dr. Ernest L. Rossi, hipnoterapeuta ericksoniano, o que mostra que a mente e o
cérebro têm uma grande participação nesse processo.
Quando um paciente vai passar por uma cirurgia, ele colabora muito mais com o médico e
sua recuperação é bem mais rápida se, antes, ele é informado passo a passo do que vai
ser feito e pode acompanhar as próprias alterações feitas em seu corpo.
O estado de relaxamento auxilia também em casos mais sérios, quando o controle da dor
não é suficiente para dispensar o uso da anestesia. É sabido que pacientes
odontológicos necessitam de maior dose de anestesia quando estão nervosos do que quando
estão relaxados. A meditação leva o indivíduo ao estado de relaxamento, daí seu
caráter benéfico que tem reflexos no organismo.
Em geral, a dor costuma chamar a atenção de quem a possui, e essa atenção concentrada
na dor só faz aumentá-la.
Meditação - O Que é?
O médico norte-americano William Collinge define
meditação como "uma prática simples e tranqüila, que encerra um poder
extraordinário para auxiliar na resistência à doença e manter a saúde em geral".
Mas a meditação é muito mais que isso. Ela proporciona ao praticante o que Clarissa P.
Estés, psicóloga junguiana, chama de 'o retorno ao lar', ou seja, a volta para dentro de
si mesmo, para um ponto só acessado pelo indivíduo, em condições de absoluta
serenidade.
Muitas doenças são auxiliadas exatamente por essa sensação da volta para casa, porque
a meditação faz o caminho contrário.
Hoje em dia, a sociedade moderna exige que o homem se afaste de seu eu interior, usando
uma ou várias máscaras, a ‘persona’, a forma como nos comportamos em
sociedade. Sentimentos como medo, insegurança, desejos, tristezas, não podem ser
manifestados, por exemplo, em uma sala de reuniões. Para sobreviver no trabalho, o homem
tende a agir de maneira que não é, porque alguns sentimentos não são politicamente
corretos de serem expostos. A sociedade considera 'de mau gosto' falar de assuntos
pessoais ou considerados 'delicados'. E, geralmente, temas delicados são os temas
verdadeiros, que o indivíduo vai adiando até encontrar o estresse. Isso colabora para
que o homem se sinta sozinho com seus problemas, fragmentado, distanciado de sua
verdadeira natureza.
A meditação é uma técnica que faz com que o indivíduo recupere e mantenha seu eixo,
um centro, para onde pode retornar quando quiser. É como a ponta do compasso, que se bem
fincada consegue traçar círculos perfeitos, sem que ela (o eixo) saia do lugar. Depois
de anos de prática, a pessoa consegue se manter em seu eixo, mesmo estando no convívio
social. Isso diminui a tensão e, conseqüentemente, fortalece as defesas imunológicas.
É uma reação em cadeia que proporciona, muitas vezes, a cura de uma doença. É assim
que a meditação provoca o equilíbrio e a harmonia psíquicos e esta técnica é
fundamental no controle da dor, que é a manifestação física de um desconforto antes
sentido pela mente, em muitos casos.
Mas como a meditação atua para aliviar a dor? Primeiramente, diz Dr. Howard Fields, da
Universidade da Califórnia, diz que o relaxamento, que é cerne da meditação, relaxa a
tensão muscular que em geral contribui para a dor. E que a ansiedade envolvida na
antecipação da dor - ou em pensar que a dor nunca irá passar - é o que causa a
contração muscular. A meditação também modifica a resposta das pessoas à dor, que é
mais do que uma sensação física, é algo experimentado na emoção.
Tipos de Meditação
Existem infinitas formas de meditação, derivadas de duas formas básicas:
- Meditação livre - não é conduzida por nenhum instrutor, nem se usa fitas gravadas
com instruções, apenas o meditante se senta e deixa que os pensamentos fluam livremente,
em silêncio.
- Meditação dirigida - é uma meditação conduzida por um instrutor do início ao fim,
ou é dirigida por meio de fita gravada com a voz do instrutor, ou com a própria voz do
meditante. Quando as instruções da meditação incluem imagens, entra no campo da
visualização.
Ambas as formas de meditação podem ser auxiliadas por:
- silêncio total, ou música suave.
- sons de água, sinos, vento, animais (o som da baleia, por exemplo).
- aromas e/ou cores.
- mantras.
- pontos focais de meditação.
Mantras são sons ou seqüência de sons silábicos, que se repetem muitas e muitas vezes.
Mesmo que conheçam o significado das palavras, muitas pessoas preferem entoar mantras no
seu idioma de origem, pois uma frase conhecida (no próprio idioma do meditante) pode
privilegiar o pensamento racional, que não é o objetivo na meditação. Um ponto focal
de meditação é um objeto, uma imagem, uma vela, ou mesmo uma flor ou planta, onde o
praticante concentra seu ângulo de visão e se põe a meditar. Na meditação, as imagens
não são usadas para fins de adoração (o Deus cristão, ou deuses de outras
religiões), mas apenas como ponto de referência e de concentração. Os pontos focais de
meditação auxiliam o praticante a não dispersar sua atenção e suas energias, por
exemplo, com pessoas entrando e saindo do recinto, vozes ou objetos espalhados pelo
ambiente. No zen budismo, não há ponto focal, senão simplesmente a parede nua,
simbolizando o vazio, para onde o praticante se volta para meditar.
É o que ensina Petrucio Chalegre, praticante zen há 27 anos e diretor da Fundação
Todatsu. Segundo Chalegre, "a prática da meditação existe em todas as linhas
budistas mais antigas, com poucas exceções". E dá exemplos: "Podemos dizer
que as linhas principais diferem em termos de métodos de treinamento, umas mais
monásticas (theravada), outras mais voltadas aos leigos (mahayanas), outras ainda com
práticas elaboradas de visualizações (vajrayana), mas com um substrato comum bem
estabelecido".
No zen, diz ele, se dá principalmente "a imobilidade física e o esvaziamento
mental", para deixar de lado "todos os juízos e pensamentos". Quanto à
freqüência, "a prática pode ser bem intensiva, todos os dias e, nos mosteiros, ela
acontece várias horas por dia", diz o zen budista.
Há infinitas variações da técnica de meditação, a qual pode ser feita
individualmente ou em grupo. O que varia são os temas ou enfoques escolhidos como
auxiliar na técnica, como os temas religiosos - hindus, budistas, católicos, mas isto
não deve atrelar a meditação a qualquer religião, devendo ela ser vista como uma
técnica terapêutica, antes de tudo.
Vantagens da Meditação
- Evita ou diminui o uso de drogas químicas como anestésicos e analgésicos, que
podem causar problemas de intolerância, alergias, fraqueza nas pernas, tontura e outros
efeitos colaterais.
- A meditação não tem custo, ou, se tiver (em cursos regulares e sessões de prática),
estes são muito menores do que o custo de medicamentos.
- Não há contra-indicações para meditação como há para os remédios, salvo em casos
de graves doenças ou transtornos mentais, quando as práticas de meditação devem ser
acompanhadas por um médico neurologista ou psiquiatra.
- A meditação, se bem feita e com freqüência, tem abrangência maior do que o motivo
inicial que levou o indivíduo a praticá-la, implicando em mudanças de posturas e de
atitudes diante da vida que influem beneficamente na saúde física e mental.
- Não há o risco do indivíduo viciar-se em analgésicos quando ele é substituído pelo
hábito regular da meditação, que é uma prática saudável.
- Ao praticar meditação, a pessoa deve ter uma meta, um objetivo. No zen, segundo
Chalegre, o objetivo da meditação é "clarear as ilusões, desvencilhar-se das
crenças e apoios" (muletas, tais como velhos hábitos, rigidez de postura, etc),
"compreender o absoluto". Para um budista, a meditação é uma técnica muito
utilizada, que ajuda a "acordar como Buda (que significa "desperto") e
assim obter a iluminação", relata.
- A vantagem desta técnica, de acordo com o praticante zen, é que ela pode ser usada por
qualquer um para obter calma, relaxamento físico, diminuição das tensões mentais,
serenidade".
- Chalegre considera benéfica a meditação zen, silenciosa, de frente para uma parede,
isolada e exigente. "Seus efeitos são extremamente rápidos", ele explica, e
"desde a primeira experiência as pessoas começam a descobrir coisas sobre si
mesmas, seus pensamentos, seu estado psicológico, suas tensões".
- A meditação desvia a atenção da dor, fazendo com que o indivíduo comece a ter uma
percepção maior de outras sensações, ficando mais claro para ela os sons, o paladar,
as cores, etc. Essa mudança na percepção seletiva é muito importante na diminuição
da dor e na recuperação do bom humor, que em geral não existe quando o paciente está
debilitado.
Cuidados
- Algumas pessoas mais sensíveis, se colocadas desde o início a meditar por longo
período, podem ter alucinações - o mais freqüente é a pessoa ver luzes, auras, e às
vezes figuras em movimento. Por isso, elas devem ser ensinadas a entrar e a sair do estado
medidativo lentamente, não de forma brusca, e começar com períodos curtos, aumentando
depois com a prática, pois podem mergulhar em um estado de transe mais profundo, próximo
da auto-hipnose.
- As pessoas que meditam devem ser incentivadas a serem produtivas na sua vida diária,
fazendo tarefas de rotina, para que não se isolem de seu quotidiano, pois as sensações
obtidas na meditação são muito atraentes.
- O cuidado na escolha de um instrutor é essencial, pois este pode conduzir a pessoa a um
ponto importante de seu auto-conhecimento, do controle de sua mente-corpo, ou a lugar
nenhum.
- Toda meditação por si mesma é benéfica, e o praticante não deve ser induzido a
entrar em uma nova religião, principalmente se não for essa sua vontade, em troca de
aprender como meditar.
- Como são inúmeros os centros de meditação, é natural que a pessoa, ao procurar pela
primeira vez, fique como um pássaro voejando em busca de seu ninho, até encontrar o
'lugar certo', isto é, o lugar onde ela se sinta mais confortável. Para isso, a pessoa
não deve se constranger mas deve sempre questionar, fazer perguntas, exercer seu senso
crítico, toda vez que for necessário.
- Por outro lado, para aprender, é preciso também que a pessoa se esvazie de seu sistema
de crenças, como um copo que, para ser enchido, precisa antes estar vazio, caso
contrário ela não aprenderá nada.
- É aconselhável que a pessoa que procura a meditação para o controle da dor mantenha
uma espécie de diário e registre ali suas impressões, para ver mais adiante se a
meditação está dando resultados, e discuta isso com seu médico.
- O praticante zen diz que a técnica tem se espalhado entre profissionais da área
médica, da psiquiatria e da psicologia. Existindo então essa ajuda profissional, já é
possível falar em alguns cuidados. Para Chalegre, "pessoas com distúrbios devem ser
avaliadas antes, não devem sentar-se a sós para meditar, pois a solidão pode aguçar
fantasias se não houver orientação adequada".
Curiosidades
- Terry Cliford, estudioso da psiquiatria budista, recomenda entoar o maior número de
vezes possível o mantra budista (tibetano) da medicina: Teyata - Om bekanze bekanze
mahabekanze bekanze raza samudgate swaha. Simplesmente lido, um mantra pode parecer
estranho aos olhos ocidentais. Mas quando se entra em um ambiente onde o mantra é entoado
em coro, seu som traz uma impressionante sensação de paz e de conforto que de imediato
faz com que o indivíduo se sinta confortável.
- Chalegre relata que há experiências em que a meditação ajuda no controle da
dor: "os praticantes adquirem grande tolerância a todos os eventos externos e o
controle da mente se extende sobre todo o seu ser". E acrescenta: "Há relatos
bem modernos e documentados (guerra do Vietnã) de pessoas que foram queimadas vivas em
posição de meditação sem uma manifestação física".
- Perguntado como ele definiria o que é meditação, Chalegre afirma: "Não
definiria. Não se explica o sabor do sal, dá-se um pouco para provar e pronto".
- Hugues Ferté, diretor geral dos Laboratório Canonne (fabricante das pastilhas Valda),
criou uma sala de meditação, com ambiente oriental, e uma sala de ginástica para seus
100 funcionários no Rio de Janeiro, onde ele mesmo conduz a meditação. A ginástica
pode ser feita desde as 6 horas, antes do trabalho, e a meditação é feita por meia
hora, durante o almoço, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas que
ali trabalham. Simpatizante do budismo, Ferté se exercita antes de ir para o trabalho, em
sua sala decorada (como a sala de meditação da empresa) em estilo oriental,
privilegiando cores claras e luz natural, com vidros, de onde ele pode ver o laboratório.
A meta de Ferté é que o trabalho seja uma extensão de sua casa e dos funcionários.
- A Companhia Suzano de Papel e Celulose também entrou no mesmo ritmo. Desta vez, além
de relaxamento, existe também a prática da música. Vanda Guimarães, secretária da
presidência da empresa, conduz nos intervalos do trabalho o coral da Suzano, que, segundo
ela, tem proporcionado um enorme bem-estar aos funcionários.
- Enxaquecas, ansiedade, dores nas costas, eczema são alguns dos problemas eliminados por
pessoas que meditam, segundo Dr. Fields.
- Há uma enorme variedade de casos estudados com pacientes de câncer, cujas metásteses
estacionam ou mesmo diminuem quando o paciente é levado ao relaxamento.
- Estudos feitos por Jon Kabat Zinn, diretor da Estresse Reduction clinic, 65% dos pacientes relataram diminuição da dor, depois de práticas de meditação.
Copyright © 2000 eHealth Latin
America
17 de Novembro de 2000
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