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05 de Março de 2004 (Bibliomed). É possível concordar com a revalidação
automática dos diplomas dos médicos formados no exterior sem submetê-los a uma prova ou
a um teste de conhecimento? Não. O posicionamento institucional do Conselho Federal de
Medicina, CFM, está expresso por meio das resoluções CFM n° 1.669/2003 e 1.712/2003.
Nesta quinta-feira (04/03), os presidentes das quatro entidades médicas nacionais
Conselho Federal de Medicina, Edson de Oliveira Andrade; Associação Médica Brasileira,
Eleuses Paiva; Federação Nacional dos Médicos, Héder Murari e Confederação Médica
Brasileira, Waldir Cardoso reuniram-se com o ministro da Saúde, Humberto Costa,
para discutir a questão.
A polêmica em torno da revalidação dos diplomas dos médicos que se formam no exterior
voltou a ser o centro das atenções, desde a visita oficial que o Presidente da
República, Luís Inácio Lula da Silva, fez à Cuba, no ano passado.
Em setembro de 2003, em Havana, Lula assinou um protocolo de intenções nas áreas de
educação, saúde e trabalho. O documento deu origem a uma comissão interministerial que
está estudando a possibilidade de liberar o trabalho de médicos, enfermeiros e outros
profissionais da área da saúde, sem que eles precisem passar por exames no Brasil, uma
revalidação automática de diplomas cubanos.
Em janeiro deste ano, o governo brasileiro enviou uma missão diplomática à Cuba para
analisar as condições de registro recíproco dos diplomas de graduação e
pós-graduação na área da saúde. A missão contou também com a participação de
representantes do ministério da Saúde e da Casa Civil.
O Conselho Federal de Medicina, CFM, foi convidado a indicar representantes para
acompanhar a missão, no caráter de observador, sem o direito de intervir ou opinar no
relatório final, que será entregue ao presidente da República no dia 26 de março.
Assim, o presidente, o secretário-geral, e o 1° tesoureiro do CFM, respectivamente,
Edson de Oliveira Andrade, Rubens dos Santos Silva e Genário Alves Barbosa, acompanhados
do presidente do Conselho Regional de Medicina de Alagoas, Emmanuel Fortes Cavalcanti,
estiveram por 10 dias em Cuba, visitando hospitais e universidades, para avaliar as
instalações, currículo e o método de ensino daquele País.
"Mesmo no caráter de observador, o CFM aceitou o convite oficial e foi à Cuba com o
objetivo de conhecer a realidade do ensino médico naquele País. Recolhemos dados
importantes e uma boa quantidade de informações para nos posicionarmos
institucionalmente sobre o tema. Embasados pelo que vimos e ouvimos em Cuba, o CFM
continua defendendo a idéia de que uma revalidação automática de diplomas é
inadmissível" afirma o secretário-geral do CFM, Rubens dos Santos Silva.
Revalidação automática
Desde 1957, os profissionais formados no exterior devem se submeter a um exame de
revalidação do diploma para exercer a profissão no Brasil, seja este profissional
brasileiro ou estrangeiro. A exceção a esta regra era a Convenção de Reconhecimento de
Títulos e Diplomas da América Latina, da qual o Brasil não é mais signatário desde
1999. Assim, estudantes formados no exterior precisam se submeter a provas em
universidades federais para ter seus diplomas reconhecidos. Se Cuba fizer jus a este
"privilégio político", outros países do Mercosul e da América Latina não
poderiam reivindicar os mesmos direitos? Existem estudantes de medicina brasileiros na
Bolívia, no Paraguai, na Argentina, no Uruguai.
Médico cubanos no Brasil
Em 1992, o Maranhão registrou o primeiro "embate" à entrada de médicos
cubanos no Brasil. Na ocasião, um ex-prefeito do município de Caxias levou para aquela
localidade cerca de 12 profissionais cubanos. Na ocasião, outros municípios seguiram
"o exemplo" e fizeram o mesmo, contratando médicos cubanos para trabalharem no
Maranhão. De acordo com o presidente do CRM-MA e 3° vice-presidente do CFM, Abdon José
Murad Neto, "naquela ocasião, a atuação do Conselho Regional de Medicina do Estado
foi fundamental para impedir que profissionais que não haviam passado pela revalidação
de diplomas pudessem exercer a medicina no Brasil".
Amapá
Embora não existam médicos cubanos trabalhando no Estado, o Amapá também já esteve
às voltas com a delicada questão cubana. Em 2001, o então governador do Estado, João
Alberto Rodrigues Capiberibe, trouxe 42 médicos cubanos para trabalharem no Estado. Na
ocasião, Capiberibe anunciava à população em propaganda de rádio e tv - que a
vinda dos médicos cubanos resolveria o problema da falta de médicos no Estado. Durante
90 dias tempo de validade do visto de turista dos médicos cubanos - o Conselho
Regional de Medicina do Estado lutou e não permitiu que estes profissionais praticassem
qualquer ato médico no Brasil.
Tocantins
É o Estado brasileiro que enfrenta mais dificuldades com a questão do médico
estrangeiro. "Atualmente, cerca de 997 profissionais, das mais diversas
nacionalidades, exercem a medicina no Estado" afirma o presidente do Conselho
Regional de Medicina, Solimar Pinheiro da Silva. Deste contingente, a maioria não tem o
seu diploma revalidado. E as informações e números oficiais são conflitantes: o
Conselho Regional de Medicina informa que apenas 54 médicos cubanos estão regularmente
inscritos no órgão, enquanto a Secretaria de Saúde do Estado afirma que
apenas 131 profissionais atuam irregularmente - sem revalidação de diplomas
e sem inscrição no CRM do Estado. Desde 1998, o Conselho Regional de Medicina de
Tocantins vem alertando, oficialmente, o Governo do Estado, em especial à Secretaria de
Saúde, que a revalidação de diplomas destes profissionais é essencial para assegurar
um atendimento de qualidade à população.
Solução para o problema
"O Conselho Federal de Medicina espera que o desfecho para a questão da
revalidação automática de diplomas com Cuba respeite os anseios da classe médica
brasileira e vá ao encontro das deliberações do último ENEM. Até agora, a
experiência nos leva a defender a realização de uma prova de conhecimentos específicos
e de proficiência na língua portuguesa (no caso de profissionais estrangeiros) como a
melhor forma para revalidar o diploma do médico estrangeiro." afirma o presidente do
CFM, Edson de Oliveira Andrade.
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