Notícias de saúde
16 de julho de 2004 (Bibliomed).
Desde o passado mais distante, sempre coube à mulher a responsabilidade pela
concepção. A ela caberia receber a semente do homem e procriar. Por isso, a
pressão da sociedade é maior em relação à esposa do que em relação ao marido.
Quando o casal não conseguia ter filhos, a mulher era sempre responsabilizada
pelo problema. A infertilidade era vista como um defeito biológico, que levava
ainda mais as mulheres a alimentarem o sentimento de inferioridade e de culpa,
consideradas vítimas da repreensão divina, que determinava que elas não eram
merecedoras da bênção da procriação. Assim, durante séculos, não admitiu-se a
infertilidade masculina.
Hoje, sabemos que o homem é responsável por cerca de 30% a
40% dos casos em que o casal enfrenta problemas para engravidar. Em conjunto com
algum fator feminino, mais 20%. Dessa forma, no mínimo 50% dos casos de
infertilidade contam com a participação masculina.
Isso acontece porque, para que fertilize o óvulo, o
espermatozóide precisa ter uma série de propriedades: formato oval, movimentos
direcionados, reconhecer e aderir ao óvulo e, posteriormente, penetrar no seu
interior para fertilizá-lo. Então, o potencial de fertilização masculino depende
da integração de todas estas propriedades, que contribuem para sua competência.
Além disso, ao entrar pelo útero e tubas (trompas), o espermatozóide sofre uma
série de modificações capazes de torná-lo apto para fertilizar o óvulo. Essas
mudanças recebem o nome de capacitação espermática e sem ela, a fecundação não
seria possível.
As causas de infertilidade masculina podem ser classificadas
em pré-testiculares, testiculares e pós-testiculares. As pré-testiculares são as
alterações que ocorrem no sistema hormonal levando o homem a não produzir
espermatozóides adequados. As testiculares são doenças do testículo propriamente
dito. E as pós-testiculares abrangem problemas do sistema de ductos que
transportam os gametas masculinos para o exterior.
Os homens podem apresentar ausência de espermatozóides no
ejaculado, mesmo quando o testículo é capaz de produzí-los. É a azoospermia
excretora. Neste grupo de pacientes, as enfermidades mais comuns são as
malformações congênitas, infecções, traumatismos e a vasectomia, que interrompe
o trajeto dos espermatozóides. Já a azoospermia secretora é quando os testículos
não produzem espermatozóides. Alguns exemplos do problema são as doenças
congênitas, infecção dos testículos, caxumba, uso de medicamentos para o
tratamento de câncer, entre outros. Há também a oligospermia, que é a baixa
quantidade de espermatozóides, que também podem ser causadas por anomalias
congênitas.
O homem também pode sofrer com a diminuição do número de
motilidade dos espermatozóides, ou oligoastenospermia.. Ela pode ser causada por
distúrbios hormonais, alterações testiculares (como a varicocele), alterações
inflamatórias e alterações gerais, que são aquelas relacionadas aos aspectos
profissionais, psíquicos, infecções em geral, medicamentos, tabagismo,
alcoolismo, stress e outros fatores. Os espermatozóides capazes de fertilização
devem ter o formato perfeito. Qualquer alteração em sua morfologia é chamada de
teratozoospermia. Os principais responsáveis por este problema são as
inflamações, algumas drogas, origem congênita e, novamente, a varicocele.
A varicocele é uma dilatação anormal das veias, semelhante a
varizes, que drenam o sangue dos testículos. É classificada em quatro graus,
desde os casos mais simples até os mais avançados. "A associação entre
varicocele e anormalidade no tamanho do testículo é conhecida há séculos. É
muito comum e pode ser considerada uma causa de infertilidade masculina
corrigível", esclarece Dr Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em
Infertilidade da Clínica de Reprodução Humana do IPGO – Instituto Paulista de
Ginecologia e Obstetrícia.
O médico conta que, estudos em um grupo de pacientes após a
cirurgia da doença, concluíram que se pode melhorar a qualidade seminal em
alguns homens (verificada pela concentração espermática, morfologia e motilidade
dos espermatozóides), podendo, algumas vezes, aumentar a taxa de gravidez após a
intervenção cirúrgica. Porém, a indicação da cirurgia para melhora da função
reprodutiva deve ser cuidadosamente analisada. "O paciente deve estar ciente dos
possíveis resultados insatisfatórios após a intervenção", alerta Dr Arnaldo.
A infecção genital também pode ser um fator importante de
infertilidade masculina. As bactérias Escherichia coli e os micoplasmas, são as
mais freqüentes e podem comprometer a fertilidade do homem. Normalmente o
diagnóstico é realizado através de exames laboratoriais. No entanto, a
ultrassonografia da próstata transretal ou pélvica, pode ser um auxílio para
diagnosticar inflamação crônica da próstata e vesículas seminais.
A pesquisa da fertilidade masculina deve ser realizada em
todos os casais, pois é muito mais simples do que a feminina. A avaliação da
fertilidade do homem é baseada na história clínica, como os antecedentes de
infecção, traumas, impotência, tabagismo, entre outros; além do exame físico,
espermograma e, em casos especiais, exames genéticos. "Geralmente, para a
conclusão do diagnóstico através do espermograma, é necessário que este exame
seja repetido por três vezes", afirma Dr Arnaldo. Segundo o especialista, o
homem deve ser tratado sempre que possível. "Porém, é necessário saber o que é
relevante nesta pesquisa, para que ninguém se perca em resultados superfíciais
que levam o casal, muitas vezes, a perder tempo e dinheiro, além de sofrer o
desgaste psicológico presente neste tipo de tratamento", esclarece o médico.
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