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Cláudia Ramos
27 de Abril de 2000 (Bibliomed). A inibição de desejo feminino ou apatia sexual é um problema muito mais comum do que imaginamos. E atinge tanto mulheres casadas, como solteiras, sem distinção de idade ou classe social. Relacionada na maioria das vezes a problemas psicológicos, embora não sejam raros os casos de fundo orgânico, a inibição ainda é um tabu no país.
Até a década de 70, inibição do desejo era identificada como 'frigidez'. O próprio termo carregava uma conotação depreciativa e acabou caindo em desuso nos anos 80, ao se descobrir que a apatia era apenas uma das disfunções do sexo feminino. Assim como a anorgasmia - ausência de orgasmo -, a dispareunia - dor na relação - e o vaginismo - contração muscular que dificulta ou até impede a penetração.
Quando as dores de cabeça têm hora marcada para acontecer...
Segundo a sexóloga Sandra Baptista, a apatia sexual é uma das queixas mais frequentes no seu consultório. Apesar disso, as mulheres ainda não se sentem à vontade para assumir, falar e lidar com a questão. É como se ao assumirem a falta de desejo, elas estivessem dizendo ao marido ou companheiro que não sentem mais nada por ele, nem amor. E não é verdade.
Na maioria das vezes, as causas da apatia são psicológicas
Entre as mais freqüentes estão as desordens no estado emocional(depressão, estresse, ansiedade, inferioridade), aspectos culturais (educação familiar rígida, aspectos religiosos marcantes, ausência de orientação sexual ou orientação inadequada), sentimentos de culpa frente ao desejo, problemas entre o casal (dificuldade de diálogo, descoberta de infidelidade) ou outras causas (gravidez indesejada, ter sido vítima de abuso sexual, aborto, medo de intimidade).
Embora os casos psicológicos sejam os mais freqüentes, não se pode esquecer os de origem orgânica. A apatia atinge geralmente mulheres ainda em idade reprodutiva, ou seja, pré-menopausa, que sofrem de baixa hormonal. Qualquer queda nos hormônios sexuais - o testosterona, a progesterona e o estrodiol - pode provocar uma baixa no desejo, acarretando na menopausa precoce ou no hipogonadismo, que é a baixa de secreção de hormônios sexuais femininos ou masculinos.
As quedas de hormônios são detectadas por meio de exames de sangue específicos e pelo exame preventivo. No preventivo é possível ter a dosagem do muco. Quando o muco está muito fino e se a vagina apresenta secura, as chances de o resultado ser positivo são grandes. Mas os dois exames devem ser feitos juntos.
A renovação do desejo pode exigir a reposição hormonal
Detectado o problema, é feita uma reposição hormonal com remédios. Mas é bom lembrar que outros problemas orgânicos também podem causar a inibição sexual. Casos de tumores, ideopatias (quando não se sabe cassificar o problema), anemia, tiróide, hipertensão, e algumas drogas, como os calmantes de modo geral, podem levar a apatia, explica a endocrinologista Lizanca Marinheiro.
Mas quando o problema não é orgânico e sim psicológico, o leque de causas se amplia ainda mais. E cabe ao especialista fazer uma espécie de devassa na vida da mulher. É preciso ver se ela está passando por algum tipo de problema, como um estresse, que resulta na perda momentânea do desejo, e depois, questioná-la se ainda há o desejo por aquela relação e se o parceiro a excita.
Para Sandra, a maioria das mulheres não se dá conta de que há algo errado e não é só com ela, mas com o parceiro e com a relação. Canso de dizer para elas que o órgão sexual da mulher está na cabeça e, por isso mesmo, não dá para separar a cabeça do sexo.
Como as questões da sexualidade envolvem muitos mitos e preconceitos, algumas mulheres ainda têm receio de falar com o parceiro ou marido.
Não falando, elas levam a relação sexual adiante, podendo ocasionar outros tipos de problemas, como o vaginismo, a anorgasmia. Alguns homens chegam a usar um gel para facilitar a penetração, já que a vagina não teve lubrificação. Mas é apenas um artifício, não adianta, porque o problema está lá e a solução foi apenas momentânea.
Um descompasso de horário entre o casal, problemas físicos recorrentes, tudo serve de alerta de que alguma coisa não vai bem na relação. Para Sandra, aquela mulher que começa a ir para cama mais tarde, depois do marido, com a desculpa de lavar a louça, ver televisão ou outro motivo qualquer, ou ainda que alega dores de cabeça, cansaço, para não ter relacões sexuais, com certeza, precisa revisar o relacionamento.
Panos quentes são sempre usados para justificar o desinteresse pelo parceiro
Muitas mulheres nem se dão conta de que o desejo pelo marido ou companheiro acabou e simplesmente vão levando a relação, como se cumprissem orbigações, diz Sandra. Para ela, é fundamental que haja o diálogo entre o casal, que se procure uma solução. Algumas vezes é uma simples questão de falar, de pedir um carinho, preliminares, por exemplo.
A melhor saída para os casos de apatia sexual deve ser encontrada pelo próprio casal. Uma conversa franca, uma avaliação de ambos do que está bom e do que está ruim, tudo isso ajuda. Mas, quando o diálogo não é possível, a saída é a busca de um terapeuta sexual, que vai funcionar como um educador.
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